Panegírico ao Professor Kenitiro Suguio
Professor Kenitiro em uma de suas visitas ao rio Baía, desta em excursão durante o 6º Congresso do Quaternário em 1987.
No dia 26 de maio passado faleceu o prof. Kenitiro Suguio, eminente geólogo conhecido como o Pai da Sedimentologia Brasileira. Nascido em Duartina, no interior de São Paulo, o professor Suguio era filho de imigrantes japoneses e por toda sua vida manteve fortes laços afetivos, culturais e científicos com aquele país.
O ensino foi o centro de sua dedicação. Certamente, todo geocientista brasileiro estudou alguns de seus doze livros, fruto de sua dedicação infatigável ao ensino da geologia em especial, da sedimentologia. Guardo ainda com muito carinho (e muita utilidade) o seu primeiro livro “Introdução à Sedimentologia” de 1973. Prof. Kenitiro foi um dos pioneiros dos estudos do Quaternário no Brasil com ênfase nas oscilações do nível do mar e nas alterações climáticas holocênicas. Ao longo de mais de meio século de carreira orientou cerca de cinquenta mestrados e doutorados, tendo pulicado mais de 200 artigos científicos. Foi ainda um grande divulgador da ciência por meio de artigos em jornais, revistas, entrevistas e palestras.
O professor Kenitiro, juntamente com o Dr. Potter e Prof. Fúlfaro, foram os chamados “Patronos do GEMA”: participaram da famosa excursão ao rio Baía em 1987, que deu origem ao grupo de estudos, consolidado pelo projeto da FINEP “Análise ambiental e ecotoxicológica da planície do rio Paraná, Porto Rico, PR”, na época o projeto de maior recurso recebido pela UEM. Por várias vezes o prof. Kenitiro retornou ao GEMA, para palestras, bancas e trabalhos e campo. Ainda recentemente, no meu último encontro com o velho mestre, e recordava vivamente da excursão ao rio Baia e das peripécias decorrentes: “no acampamento jantamos carne de capivara desossada a bisturi por um médico”.
Conheci o Dr. Suguio como professor e posteriormente como colega na Universidade de Guarulhos, onde tive grande convivência com ele por mais de cinco anos. Minha admiração pelo mestre ia além da sua dedicação infatigável à ciência, mas voltava-se ao seu corretíssimo caráter e senso de justiça dificilmente encontrado com tanto apuro no meio universitário. Por várias vezes vi o Prof. Kenitiro enfrentando situações bastante difíceis em defesa do que achava correto e justo. Eu mesmo tive seu amparo em uma dessas situações durante meu doutorado na Universidade de São Paulo.
Finalizo com um profundo sentimento de gratidão e melancolia que geralmente nos aflige quando da morte de grandes personalidades que foram influentes em nossa formação. Acredito que comigo encontram-se também muitos geólogos e geógrafos que de certa forma tiveram a presença do prof. Kenitiro em suas vidas.
Texto escrito por: Prof. Dr. José Candido Stevaux